25 de abr. de 2011

Musicando

Na minha época de criança, até mesmo de adolecente, era comum o passa-tempo chamado "caderno de perguntas". Funcionava como um grande questionário para os amigos mais chegados. Alguém se dava ao trabalho de escrever em cada uma das folhas do caderno uma pergunta, na primeira linha, e nas linhas subsequentes viriam as respostas de seus respectivos participantes. É mais ou menos como o quizz game do Facebook: "Você acha que fulano sairia de casa de pijama? Confira a resposta de beltrano clicando aqui."

Confesso que a ideia do caderno era melhor. A primeira pergunta costumava ser "Qual é o seu nome?" ou ainda a variável imperativa "Nome e idade.", mas a que eu sempre achei intrigante foi "Quem é você?". Imagine que o sujeito se prestava a falar sobre si mesmo, sem vergonha, sem medo de errar. Naturalmente, não respondíamos às perguntas sob o olhar vigilante da psicanálise, nem mesmo nos daríamos conta de compreender nossas respostas de maneira profunda, e ainda bem. Mas uma pergunta em questão me motivou a escrever este texto: "Que tipo de música você gosta?"

Mais do que aos ouvidos, música nos toca a alma. Atinge lugares desconhecidos, territórios emocionais ainda não revelados, tudo porque cada acorde, cada nota em conjunto vibra em sintonia conosco. Ocorre que atualmente a música tem sido questionada. Os tempos são outros. São grupos coloridos, emos, rock-fast-food, funk-presepada, sertanejo de fábrica, e muitas outras porcarias. Mas, em um mundo politicamente correto, no qual pretos são afro-decendentes, deficientes agora são portadores de necessidades especiais, fica difícil de saber qual é seu tipo de música, ou então você poderá ser visto com olhos de preconceito.

Música hoje, e talvez graças ao avanço tecnológico, não possui mais bandeira, nem pátria. Segundos depois de seu lançamento já se espalhou pelo globo como epidemia, com salvas excessões. Eu não me importo de gostar de Panic! At The Disco hoje, porque no momento em que escuto Nine In The Afternoon, me sinto como se caminhasse pelo parque no fim de semana. Não me incomodo de dizer que Luan Santana é ruim e que pra mim Ivete Sangalo é apenas carisma. Cada um está aí para cumprir um papel, que acaba sendo individualizado pelo nosso ponto-de-vista, pelo gosto.

Em tempos complexos, temos de ser simples. Nada de nos relativizar tanto. Goste apenas de seu momento, e a música será a que melhor lhe convier. A pós-modernidade nos deu a sabedoria do trânsito livre, no entanto, não é crime gostar de uma coisa e não gostar de outra. Seja você. Se pudesse brincar de "caderno de perguntas" novamente, acrescentaria: o que te faz ser você?

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