4 de abr. de 2011

A vida nossa de cada dia

Recentemente o Brasil perdeu um de seus políticos mais notáveis, mas não por seus feitos políticos, falo de José de Alencar.

A morte nos causa certa comoção, é verdade, e no Brasil, basta morrer na política para que o passado tenebroso seja aviltado por uma onda de perdão interminável e de forma intermitente, graças a Deus, porque assim como os pecados são esquecidos com o tempo, o sujeito também. O problema é que tal figura para sempre será lembrada pelo seu gesto mais puritano, e não por tudo aquilo que lhe formara o caráter.

José de Alencar, um homem forte, industriário de personalidade ímpar ganhou notoriedade quando assumiu a tarefa de vice-presidente de Luiz Inácio Lula da Silva provando-se fiel escudeiro durante seus dois mandatos, mesmo tendo sido incapaz de se manifestar sobre o escândalo do mensalão, momento em que se resguardara de um silêncio impecável. Noutra ocasião, levou seu conglomerado têxtil para a China, a despeito do debate sobre o protecionismo do mercado chinês ou sua citação na CPI dos Correios. Mas o que mais me adimirou em José de Alencar foi sua coragem. Coragem para lutar pela vida. Coragem para continuar. Coragem para fugir dos escândalos que o assombravam, coragem para calar quando o povo brasileiro precisava de respostas e coragem para dizer à Rosemary de Morais, suposta filha, que lhe movia um processo de investigação de paternidade, que se negava a realizar o teste de DNA porque quando jovem frequentou muitos prostíbulos e que certamente sua mãe era uma daqueles prostitutas com quem teve relações sexuais. Será que isso desmerece José de Alencar? Talvez sim, talvez não, pois afinal, só nos comovemos com sua batalha porque a midia nos fazia questão de noticiar, vice-presidente acometido de câncer abdominal é notícia enquanto milhares de anônimos nas filas do INCA agonizam suas vidas dignas em longas esperas pela esperança que o dinheiro não foi capaz de comprar.

É, José de Alencar, vá em paz e que Deus o tenha no Santo Reino da Glória, ou que o Diabo lhe carregue, quem vai saber? Bem, eu que não vou lhe julgar, mas canonizar meu caro, não conte com isso.

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