31 de dez. de 2012

Uma nova vida de novo

novos ares
mesmos olhares
diferentes mares

se quiseres
e quando puderes
a quem tiveres
se
repetir possa
esta nova bossa
uma vida nossa
haverá
que ser finda
com forças ainda
mesmo sem ser linda
e brilhará
um futuro cego
e eu me desapego
mas se pedir te nego
porque
se me deixar
te ensino a ficar
só...
se houver espaço pra me amar.

16 de dez. de 2012

Alma exposta


Borboletas em espaços abertos,
de voos incertos, bailam sem pares.
Árvores fortes, raízes que quebram concreto,
crescem altivas na busca por novos ares.

Em seus galhos magrinhos, assim confortáveis
vi borboletas repousarem seus restos...
De dias poucos, instáveis,
mas de sonhos coloridos, libertos.

Me desejo um punhado de folhas,
um casulo as avessas,
porque dentro de poucas horas,

talvez e somente talvez tu te esqueças,
que somos todos pares de muitas histórias,
alçando voos singelos e breves, como o das borboletas.


14 de dez. de 2012

Um almoço e tanto

"Não vejo mistério na minha cozinha, vejo apenas amor e paixão pelo que faço."

Foi com essa frase que encerrei meu bate papo com o chefe de cozinha Leonel Ribeiro do restaurante Empório Quintana, localizado no Cadeg, Benfica, zona norte do Rio.

Herdeiro de uma brasilidade impar, neto de Dona Hilda, cozinheira nada mais nada menos de Tom Jobim, Leonel faz de sua verdadeira vocação uma lição sobre o bem viver. Dono de um tempero inconfundível e simples, Leonel usa toques de alecrim, pimenta, temperos frescos e ingredientes selecionados em seus pratos que são verdadeiras obras de arte e merecem brindes ao prazer de se viver bem.


INside - Há quanto tempo você assumiu a cozinha?

Leonel - Faz pouco mais de um mês que assumi a cozinha com minha equipe, que ainda é jovem, mas o resultado tem sido muito bom.

INside - Se tivesse de destacar um diferencial do seu restaurante, não falo sobre seus pratos, compreende? O que seria?

Leonel - Veja onde estamos. Aqui é a rua de um mercado, um lugar simples, sem sofisticação aparente. Alguns gatos passeiam ali enquanto você aguarda meu garçom vir anotar seus pedidos. Ele vai se esforçar sempre pra lhe chamar pelo nome e eu, pessoalmente, irei supervisionar a montagem de seu prato já que fui eu quem o preparou e não meu ajudante.

INside - Então o atendimento e a localização são seu diferencial?

Leonel - Meu objetivo aqui é o de servir bem por um preço mais acessível. Gastronomia é isso. Eu trabalho com o prazer de se apreciar um bom prato. O que diferencia a minha casa é que estando em um mercado eu tenho acesso fácil aos produtos que uso para minhas criações. Tenho a liberdade de pedir ao meu vizinho algumas berinjelas orgânicas, por exemplo, caso o cardápio não o agrade e você aceite um risoto de última hora. Em que outro lugar eu poderia fazer isso?

INside - E isso não é ser sofisticado?

Leonel - Talvez sim. A maior parte das pessoas tem uma ideia um pouco antiquada do que é sofisticação. Recentemente fui a um restaurante bastante conceituado no Rio. Todos estavam extremamente arrumados. Terno e gravata pros homens, as mulheres usavam longos, eu não acredito muito nesta cozinha. E cozinha não é apenas o que se come. Fazer cozinha é o conjunto todo. Aprendi com minha família, em uma das tantas rodas-de-samba que fazemos aos fins de semana, que amigos se reúnem ao redor de uma mesa. Quer momento mais prazeroso que este? Uma boa bebida, uma boa refeição, um bom papo como este que estamos tendo agora. A gastronomia entra neste vão com o tempero acertado, o sabor neste clima agradável. Não me surpreendi quando notei que o molho barbecue do prato que pedi naquele restaurante de renome, estava muito doce, inadequado.

INside - Você também é dono do Empório ou assumiu apenas a cozinha?

Leonel - Quando o assunto é restaurante e você decide ter um chefe em sua cozinha, o dono do estabelecimento e o chefe acabam celebrando um casamento e não uma sociedade. Aquele ali é Rodrigo Quintana, o camarada que me fez a proposta e eu disse sim. Imagine só se além dos pratos eu tivesse de cuidar de absolutamente tudo que entra, sai, pagamentos, contas... Seria desafiador. Ainda bem que tenho Rodrigo, porque enquanto converso com um cliente e outro, e faço questão de saber o que meus clientes pensam sobre nosso serviço, ele me mostra um produto de um dos nossos fornecedores. Trabalhamos muito bem juntos e estamos sempre nos consultando.

INside - Certo. Você falou em sua família. A profissão então é de berço?

Leonel - Pode-se dizer que sim, mas não foi como começou. Sou neto de Dona Hilda, a cozinheira de Tom Jobim, e Dona Hilda era simplesmente fantástica. Dentre as tantas coisas que me ensinou e disse, guardo uma frase com carinho. Ela disse "meu fio, ocê até que é bom no tocadô, mas eu inda ei de te vê esquentando esse umbigo na beira dum fogão. Você vai ser é cozinheiro". E ela acertou. Eu sou músico, de Jazz. Trabalhei como músico por muito tempo e acho que posso dizer que vivo uma eterna parceria entre música e gastronomia porque não larguei a música, aliás, o ingrediente que não falta na minha cozinha é música. Ontem mesmo o rádio estragou e meu ajudante já veio me contar que achou outro bem baratinho no centro da cidade. Então mudei um pouco o rumo e aqui estou eu.

INside - Você realmente parece ter uma história de vida interessante. Talvez esse seja seu diferencial aqui no Empório e não o ambiente. Já pensou nisso?

Leonel - Já, mas diferente de alguns colegas eu não posso ignorar que por trás dos meus pratos existem bons ingredientes, inspiração e vontade de fazer algo realmente bom. Quando você vem aqui e come meu ceviche dizendo que foi o melhor que você comeu na vida, você não diz isso por causa do Leonel, você diz isso porque o peixe que usei estava fresco, porque o purê de batata doce foi feito com uma batata que chegou pra mim hoje, porque o limão estava no ponto da acidez, quer dizer, eu sou o instrumento apenas.

INside - Enquanto conversamos vejo você cumprimentar muita gente aqui, chegou inclusive a se sentar à mesa com alguns clientes. Simpatia faz parte da sua receita de sucesso?

Leonel - Olha, não sei ser diferente. Você visita minha casa, eu te mostro o que temos e você gosta. Compra. Sai satisfeito. Eu vou querer saber quem é você. Sempre temos alguma coisa a aprender com as pessoas. Às vezes o meu cliente me dá sugestões enquanto conversamos sem saber e quando eu subo ali pra minha cozinha, crio alguma coisa escutando Ella Fitzgerald, entende? Se o papo for bom então, o cliente vira meu amigo, passa a vir sempre. Aí está estabelecida uma relação saudável.

INside - Leonel, foi realmente um prazer vir aqui e desvendar os mistérios do teu trabalho.

Leonel - Que nada! Não vejo mistério na minha cozinha, vejo apenas amor e paixão pelo que faço.

11 de dez. de 2012

Barro


Agaste-se.
Enforque tuas mentiras na dor,
mas não me negue o sangrar;
Não me entregue a nuvem.
Não quero teu disco voador.
Navego sozinho até meu sol raiar.

Apedrejei meu sonho.
Rastejei pelas minhas mágoas
nas águas de um riacho sem fim.
Deixei a porta aberta,
bati em tua lua deserta...
a hora era toda certa pra mim.

Em nome do perdão,
que azeda,
Na fome de um pão,
que mofa,
Erga a cabeça
e peça,
O fim da velha canção
por uma nova,
Ao padre santo,
que reza,
No altar imponente,
que aprova,
Pecados e hipocrisias,
não interessa,
Já não sei se é poesia
ou se é prosa.
Escrevo pelo minuto
que resta,
Na esperança de quem lê
me compreenda,
No que quiser que seja,
entenda,
ou carregue tudo consigo
pra cova.
Sem choro nem vela
nem novena,
apenas amor, tardio amor
que me renova.


6 de dez. de 2012

Meninas


Eu te peço
um momento seguro,
apenas um segundo de nós dois.
Eu te detesto.
O seu cinismo, tua verdade,
seu ceticismo sem maldade
e tudo aquilo o que vem depois.
Mas te procuro
valsa e meia mudo o rumo
outra parceira, um giro, um mundo,
uma brisa quente ao suspirar...
Porque te espero
na parede branca e finda
a me pintar segredos sem tinta
qualquer palavra
que pudesse livremente nos tocar.
E te suplico,
por uma história, um castelo,
uma vontade insossa, uma cascata
pra te proteger do zero a zero
que vivemos todos os dias
ao nos evitar.