22 de dez. de 2013

Andorinhas voam

Andorinhas dizem
o que muitos ladrilhos negam.
Que por debaixo das marquises
vidas infindas se entregam,

e colhem galhos ao sabor do vento
pra que o inverno mal algum lhes faça.
E os filhos, em algum momento,
sintam-se protegidos de qualquer ameaça.

Ao som das luzes do dia
refletidas, seguem dançando.
Sombras são, andorinhas.

Lembrando esperanças minhas,
seguirão a refletir o tempo, teimando
tal qual ladrilhos que desconhecia.

10 de dez. de 2013

Ensaios em vozes 1

Quando a desesperança atingia níveis excessivos, cabia sempre a ele o papel de alimentar o humor. Era a única saída mais racional em que um problema é esquecido por completo entre a euforia do riso e a lógica da graça. Mas ela permanecia lá, a espreita, aguardando o momento preciso em que riso e graça não estivessem presentes como um escudo. Então, destruía tudo sem temer o amanhã incerto... Entretanto, como um soldado incansável, ele reconstruía cada sonho e cor. Replantava o futuro, e com um sorriso torto no rosto, ria da própria desgraça.

Ensaios em vozes 2

Nunca coube no mar, ou em qualquer coisa parecida que lhe pudesse definir o fim. Mesmo que não pudesse chegar lá, conhecer os sabores de todas as águas, ele sabia do fundo. Sabia de um obstáculo invisível, e sua tarefa em ser livre se dava pelos céus que não podia tocar, onde não podia alcançar, nem imaginar seu fim para além do escuro da noite, ou da estrela brilhante. Voar somente.

8 de nov. de 2013

Limiar

Me li em tantos
Me li tem tantas
Militem todos
Militem antas
Me li faz tanto
Me li tem tempo
Militem
Limitem
Menos.

9 de out. de 2013

Repetir

Quando o mundo inteiro findar,
não existirá aconchego, nem lar. Nenhum lugar.
Se o tempo infinito se esgotar,
não teremos mais um momento ou relógio algum pras horas contar.
E se a vida humana não bastar,
teremos outros mundos, desertos e ainda mares a navegar
Porque é nas horas e palavras
Que o homem, por tudo aquilo que passas,
Faz juras de amor outra vez.
E se estivermos juntos
Não importam o tempo, mil mundos
homens ou desertos desnudos,
existirá apenas o fim dos dias e o que há de mais certo.
Que no fim, no leito, estando ainda desperto
Esperando pelo recomeço, não importando se do avesso
A esperança no futuro perdura como no começo, sem fraquejar.
Para repetir tudo novamente,
Tudo aquilo o que há de acabar.

13 de ago. de 2013

Outro Silva

Muito antes de Amarildo, houve um Silva. Ele era só mais um, é verdade. E certamente não foi o único.

Em meados de 1990, houve um artista chamado Mc Bob Rum que nos trouxe uma mensagem bastante contundente para a época, lembro-me bem: o funk veio para se enraizar na cultura carioca. Ele não mentiu. Talvez o tenha dito com outras palavras, afinal, lá se vão alguns anos. Visionário, Bob Rum descobriu muito mais que uma tendência musical, mas soube, já naquela época, identificar algo que nos macula até os dias de hoje, a violência.

Ainda nos anos 90, o funk foi associado imediatamente ao "banditismo de favela". Tratava-se de uma expressão realística daquilo que era vivenciado por um grupo social historicamente desfavorecido, os "favelados". Ouso dizer, inclusive, que foram desfavorecidos em tudo. As palavras de ordem gritadas pela classe média carioca, hoje, não são, em absoluto, novidade para este grupo, já que eles sequer conhecem o significado de palavras como saúde, igualdade e respeito. Naquela época, a favela foi tratada como um câncer, um tumor. Elas então cresceram, em meio à cidade do Rio de Janeiro, na medida em que foram irrigadas pelas múltiplas necessidades que sempre lhe foram características, a começar por saneamento. Imagine que em um solo pobre, o que se planta nasce com dificuldade já que as ervas daninhas, resistentes, encontram meios para sobreviver e roubar os parcos nutrientes. É desta analogia igualmente pobre que constato o crescimento do ilícito e do ilegal nas favelas do Rio. Um lugar onde o estado não chega. Um lugar em que há medo, desconfiança e talvez alguma vergonha. Pólvora e chama postas lado a lado. Então, a miopia de nosso Estado preferiu que eles ficassem lá.

No decorrer desta mesma década, o funk denunciou a violência gratuita e a proliferação de poderes paralelos, bem como facções criminosas. O Rap do Silva foi somente uma das composições. Entretanto, a dita elite carioca, de tanto olhar para o próprio umbigo, foi incapaz de fazer a análise do discurso por detrás da imoralidade do que era o "proibidão". Era, por tanto, uma análise de cenário, feita com o melhor olhar dos representantes daquela cultura, daquele povo - que mais parece outro quando se olha para o Leblon - e nos mesmos moldes daquilo que se produziu no Regime Militar Brasileiro. Houve então a criminalização da pobreza, bem como o Regime criminalizou a arte. Tínhamos funk às escondidas. Hoje, temos os Silvas escondidos.

Nesses últimos 20 anos, passamos por diversas transformações, culturais, inclusive. Investimentos banharam de loja algumas regiões da cidade, e embora não sejamos mais a geração do É O Tchan, seguiremos segurando o conservadorismo puritano de apreciar o imoral pelas exceções, permitindo que exista o popularesco como atração de circo ao invés de fomentar melhores condições para o ensino de base; Danificando o entretenimento ao fazer rir da desgraça comum quando o que deveria ser exposto ao ridículo são os hábitos da classe A. O tempo fluiu e enquanto aumentamos os muros de nossa indiferença, fomos nos afundando em nossos condomínios, de luxo ou não. Em 1999, Falcão, do Rappa, lança a pergunta: não somos nós os prisioneiros? Nossa alma estava armada, porém sem motivação. Calamos porque hoje é mais fácil desafiar o mundo sem sair de casa.

Ocorre que hoje, a violência aparente é outra. Não é mais gratuita. Não temos mais a banheira do Gugu nas tardes familiares de domingo. Essa violência assemelha-se a um poder absoluto e irrefutável. Está nas mãos de conglomerados, instituições. O mesmo poder que decide o destino de um cidadão, define o roteiro da novela às 21 horas. Ele desconsidera os meios, antevê somente o fim. Do fim, todos nós, fracos, sabemos muito bem. Ele começa como uma verdade que se prova mentira e termina, antes do ponto final, com uma mentira se passando por verdade.


"Era um só Amarildo, cuja estrela não brilha, ele era pedreiro e era pai de família."

30 de jul. de 2013

Deus

Se decidires levar consigo tudo o que tenho
Abandonas teu coração primeiro e enche teu universo de mim.
Então, sentir não será mais preciso...
Mesmo que te falte o som da vida, da palavra a sílaba ou precisão,
Deixa em teu coração exposto a dor
Porque será preciso esperança,
Pois que nenhuma desgraça é tão grande que possa
Com suas cinzas pretas nuvens nublar a claridade da alma
Ou a vastidão do amor.


And now, a version that maybe could express the feeling in English to my friends across the deep blue sea.

Lord

If you decide to take with you all I have
First forsaken thy heart and fills your universe with me.
So, feeling will be no longer a necessity...
Even if you miss the sound of life, the word or its syllable accuracy
Just left your heart exposed to pain
Because you'll be in need of hope,
For that no misfortune is so great that it can
With its black ash clouds clouding the clarity of the soul
Or the vastness of love.


16 de jul. de 2013

Camaleão

Preso nas paredes da alma
está o gérmem da vida
o sopro de estrela que habita
em cada um de nós

Andarilho entre os desejos
percorre os muitos desertos
em busca de direção,
por espaço, por voz.

Sem sentir, nos domina
Outras cores assume
Pelas dores perdura
sua graça é veloz

Pois que é amor
quando o tom muda
e suas paragens disfarçam
a paixão, seu algoz

Retornará verde ao mais íntimo
Devagar, e por vagar somente
Qualquer ninho que esquente
O passado de minha mente atroz.




Dedico este texto à Ana Sarandy que com sua adoração pelas coisas que escrevo, as motiva, renova e desperta. Felicidades e muito amor, sempre!

18 de jun. de 2013

Ilegal, imoral ou engorda?

O dia amanheceu estranho. Chovia, mas o ar era seco, e apesar da temperatura baixa, o vento estava quente. Um início de dia atípico para uma típica segunda-feira de trabalho.
Semana passada, o Rio de Janeiro, ou melhor, diversas capitais do Brasil, passaram por um momento misterioso. Eu ainda não ouso chama-lo de tomada de consciência, porque até então, nada estava muito claro.

Duas moedas de dez centavos. Esta era a jogada inicial. E na mesa de apostas o valor subiu rapidamente para quatro. A ida e a volta do transporte público ficaram mais caras alguns vinténs. A matemática é básica. O governo subsidiou por anos o preço da passagem, em algum momento ela iria aumentar. Mas parece que o fundamental nunca foi o nosso forte. Faltou arroz, feijão, fubá, ovo, tudo muito fundamental, além de hospitais e ensino de qualidade. E algo começou a me atormentar. É pouca aposta pra muita rodada. Então, subiram os valores e mais jogadores se apresentaram à mesa. Suspense sim, mas nenhum blefe. Era o Rio de Janeiro indo às ruas, mas protestar por sei lá o quê. "Não é pelo preço das passagens", eles diziam. Era pelo quê, então? Não soube dizer. E naquele minuto em que escutava Roberto Carlos dizer-me ao ouvido que "há muito me perdi entre mil filosofias, virei homem calado e até desconfiado, procuro andar direito e ter os pés no chão, mas certas coisas sempre me chamam atenção" olhei pela janela do ônibus, e lá estava escrito numa pilastra "gentileza gera gentileza."

Qual é nosso estado de coisas? Gosto da expressão. Ela nos pede resoluta para pensar. E a grande e única revolução possível é a do pensamento, em cujas armas vorazes - tinta, papel e palavra - confiamos o protagonismo de nossa história, quando individualmente desistimos do consumo deliberado e irrefreável, quando destruímos o "sempre foi assim", ou não repetimos o "eu estou pagando". Onde estávamos nós na história? O que somos agora?

E lá pelas tantas da tarde, quando os pensamentos já haviam voado para além do consciente, atravessei a Avenida Rio Branco esquina com a Avenida Presidente. Era um mar de gente. Muito mais do que poderia esperar. E gentilmente, havia polícia por lá. Eles riam, diziam "quero só ver quem é que vai reclamar quando tirarmos os 'cracudos' das ruas". A pergunta ressoou forte e pesada. Não somos conhecidos pela empatia social, a zona sul que o diga. Mas as camisas brancas eram emblemáticas. Pensei, agora sem versos, que metade daqueles jovens eram apenas entusiastas, menti. Temi quando tremularam bandeiras oportunistas de uma política que mancha nossa trajetória com um analfabetismo grave, diria Brecht. E tive sim, alguma esperança, quando compreendi que muitos que ali estavam "não me representam". Que a pluralidade das reivindicações demonstram o quanto insatisfeitos estamos. Seja com o calçamento de Copacabana, ou com Tia Maria da limpeza e seu salário de pobre. Pouco importava. Era o homem, seu lobo e seu cordeiro.

Por tudo isso não fui às ruas. Senti-me burro, até insensível. Mas, sobretudo, honesto. Não quis me indispor. Minhas armas são outras. Eu as empunho agora. Poucos dirão que do meu quarto, nesta tela de computador é mais fácil. Alguns irão elogiar a disposição das ideias, e muitos não lerão. O que importa, contudo é que minha voz está aqui, sem partido, sem mal entendido ou ponto e vírgula. Está nua e molhada, quebrando barreiras, seguindo viva, renascendo. Foda-se. O que importa é o que escrevo para o amanhã de muitos, pensado por poucos, quantas vezes preciso for, sem telegrama, cassetete ou fogo.

16 de jun. de 2013

Eu acredito em virar a página.

O certo, é que nossa história é a simples síntese das nossas decisões e posicionamentos, e, é claro, suas consequências diretas e indiretas. É o resultado da equação indivíduo-tempo. E como nada há de ser eterno neste estado de coisas, a equação sofre com as variáveis que a compõe ao longo da jornada. 

A pieguice do tema, no entanto, não está na concepção da autoajuda, está na reedição, na recorrência, na necessidade de se pensar o óbvio mais uma vez. A pieguice está onde falta bom senso, onde sobram frases feitas. E é nos braços da obviedade, quando nos falta o bom senso, que reinventamos o conceito do virar a página.

Do simples esquecimento ressentido para a lembrança politicamente correta. Virar a página é reflexo do desapego que praticamos ao identificarmos o que nos desrespeita, aquilo que nos incomoda como indivíduos. Nunca foi tão difícil dizer não. Puro, simples. Um não transforma. Muitos nãos transformaram a história. Por que não a nossa? Porque tememos a reação que ele causa. Porque estamos intolerantes, hipócritas e dementes daquilo que o mundo deveria ser. Diante de tantas crises, indispor-se com as opiniões divergentes que encontramos no convívio social parece tão pequeno que nem nos damos conta de que somos, na dimensão micro, o efeito real desses impactos maiores. É a omissão de hoje, tal qual a bolinha de papel que entope o sistema de dragagem quando acumulada às demais, que resulta na vertigem coletiva que sentimos e fingimos não ver. Nos idiotizamos porque é mais bonito. É mais fácil. Então, justificando a Era do gostar de tudo, perseguindo o ideal do cidadão de bem, vemos a crescente resistência ao respeito, porque vivemos a falácia do Procon generalizado. O "eu te processo" no desconforto diário é a crítica ao politicamente incorreto às avessas da opinião verdadeira. A intolerância é a autoafirmação da mesquinhez humana quando, sufocado, o egoísmo se liberta.

Por tanto, virar a página é absolutamente recomendável, natural e salutar. A lembrança é a triagem inicial da memória. Merece ser armazenado, o que, dentro de seu valor arbitrário, tem importância nas páginas de sua história. Uma vez que o conteúdo não atenda aos requisitos da felicidade, da superação ou de qualquer outro valor ou objetivo que lhe sirva de condutor, deve ser ignorado e plenamente esquecido. Mas o processo é maior do que se compreende. É preciso destruir qualquer alternativa de retorno, e isto significa coragem para enfrentá-lo. Porque se as decisões que tomamos são de nossa responsabilidade, não será o tempo que se responsabilizará por elas, muito menos a vida. O que nos falta é a coragem e o discernimento para executar de uma vez os fantasmas que ocupam espaços preciosos na memória. Sem perceber, tornam-se lembranças indesejadas, feridas abertas que florescem sem aviso prévio.


Vire você também as suas páginas. Nosso objetivo principal é a felicidade independente de como a concebemos, e esta só será possível ser plantada na terra fértil da mente, quando arrancarmos de lá as ervas daninhas que impedem seu crescimento.

18 de mai. de 2013

Chovendo

Eles caminham juntos
E de tão coloridos desenham estradas.
Para muitos, representam desafios
Para poucos, moradas.
Entre um vendaval e outro,
distraem a grande maré
que vem e vai inundada por carros.
Eu vejo, mas não entendo o sentido.
É que aqui debaixo, 
o mundo é mais engraçado.
Mas foi caminhando
em estreitas passadas,
que vislumbrei a verdade, 
ainda melhor que nada.
É que num estranho segundo
Vi guarda-chuvas
Carregarem pessoas molhadas.


15 de mai. de 2013

Resposta minha

Mas a memória vai se sobrepor
E toda luz que um dia eu vi
Me deixará escuro o coração
Sem alma não sentirei nem mais frio
E a cor que os olhos tem
O homem inventa e sente
Porque mesmo na ausência a cor está na mente
Em cada esquina da vida
Em cada quina do papel
Pra cada amor vivido
A luz recairá como um véu
E alma então retornará
Em lembrança, carinho e zelo
E a dor permanecerá distante como a terra do céu.


18 de abr. de 2013

Vida simples

Quanto menos pensarmos
e nos destituirmos de razão
cada vez mais perto dos extremos
nossos sonhos ão.

Na vitrine do pensamento
gloriosas obrigações flutuam.
A realidade nos é só um momento.
Na realidade crua os sonhos atuam.

Insisto sermos o que pensamos,
presos aos ponteiros do tempo
da cascata que sorvemos,
ao mais simples alimento,

está o homem fadado
ao final mais surpreendente,
a libertação deste mundo tão complicado
ao quebrar a expectativa na mente.

E se importassem as injúrias, ofenças
daria de ombros à eternidade, ao sempre
sem resgate, nem princesa de tranças.
A palavra me basta, não tente.

É através dela que me traio,
É com ela que ofendo... Que penso
nada mais perigoso que perder o ensaio.
A vida se apresenta no sonho, na verdade, ou a qualquer momento.


11 de abr. de 2013

Ode ao século XXI

Engulo cru e sem mastigar.
Sinto o gosto amargo
seus olhares de repressão
as frases a destilar
Descendo, arranhando, e não indago,
cai tudo no estômago, é a intenção.

E quando menos espera
regurgito você.
Parto seus ossos nos molares,
Seu grito não me desespera.
Este crime não sairá na tevê
teria vergonha da tua presença em outros lares.

Porque é caído que mereces estar
sem mão aberta a se estender
porque hipocrisia se mata a míngua
quando a verdade parece faltar.
Primeiro corta-se a língua,
Depois é só mastigar, e engolir tudo
pra não deixar crescer.


15 de mar. de 2013

Vamos faturar!


Como não poderia ser diferente este jovem jornalista esteve ansioso pelo resultado da escolha do novo Papa. Afinal de contas, seria um bom pretexto para "vender" seu blog.

De estatura mediana, cabelos grisalhos e pele castigada pela idade, não demorará muito até que sua Santidade, o Papa Francisco I fique corcunda e fale mais lentamente que a tradução do Google. Esta é a sina daquele que lidera uma das instituições mais equivocadas do planeta.

Ao longo da história, a Igreja Católica Apostólica Romana, apostou e apostou pesado nas relações de poder, e acabou mostrando algumas inabilidades, destaque para as administrativas. Afinal de contas, saquearam inúmeras culturas em nome de Deus, possuem a maior concentração de ouro do mundo, isso mesmo, ouro, que "vale mais que dinheiro", e ainda conseguem entrar em 2013 em crise? Ineficácia administrativa, para não dizer outra coisa - embora esta realidade não seja partilhada por todos seus tentáculos.

Mas o que me motivou a falar sobre esta agenda foi o fato de o mais novo Papa (que nem é tão novo assim) prometer uma revolução para os anos vindouros da Igreja. O "Vatileakz", como ficou conhecido o dossiê encomendado pelo Papa Emérito, Ratzinger, trará trabalho e requisitará coragem de Francisco. Ele já mostrou que está disposto. O novo Lula do Vaticano está humilde, comum, mortal. Não mais ouviremos falar que o cargo representa a vontade de Deus na Terra, não. Este Papa tratá consciência humanitária para massas de fiéis, e retirará dos grandes salões sacro-santos fiéis que mais parecem fariseus que trabalhadores do Cristo.

Espera-se muito deste novo líder religioso. Alguns esperam mais, outros menos. O importante é que ele colabore para o bem comum, seja levando a paz para territórios em conflito, ou motivando outro filme como... "Os filhos de Francisco", por que não? Vamos vender, minha gente! Oh, Seu Raul! Genial!

14 de mar. de 2013

Uma verdade sobre Isabella Taviani

Isabella Taviani em seu show Raio X no Teatro Rival em fevereiro de 2013

Fazia algum tempo que aquela voz me incomodava. Não era a Ana Carolina, tinha uma marca particular ao soar o "R" e começou a se disseminar em novelas com a mesma velocidade que uma Ferrari atinge a marca dos 100 km por hora. Finalmente me apresentaram sua foto. Achei de um sorriso franco, sincero, é verdade. Mas ainda não me tocava tanto.

De repente me vi de ingressos comprados para o show de Isabella Taviani no Teatro Rival, no Rio de Janeiro, assim mesmo, sem conhecer muita coisa. Então me recomendaram escutar com pelo menos uma semana de antecedência do show o seu álbum mais recente, o álbum de trabalho e tema do show, "Eu Raio-X".

Confesso que no início fui resistente. Mas ela pediu logo na primeira faixa "deixa eu ficar" e eu deixei.

A ideia deste texto é falar um pouquinho sobre o álbum, sobre pontos que me chamam a atenção no trabalho de Isabella, só que se eu fosse fazer uma análise de todas as músicas eu levaria dias e isto ficaria bastante extenso porque uma das coisas que na minha humilde opinião marcam seu trabalho, é a diversificação de arranjos, tanto vocais quanto instrumentais. Para evitar essa situação, elegi uma música do álbum para dar uma pequena mergulhada: "Roda Gigante".

Sabe aqueles dias em que o simples fato de acordar já é um problema? Quando nos sabotamos deliberadamente apenas por uma frustração com a qual não conseguimos lidar? Pois é. Existe um amanhã, existe um hoje! Esta é a sensação transmitida pela composição. A vida é de altos e baixos como numa roda gigante. Lembro de escutar este tipo de afirmativa do meu pai, do meu professor de física explicando as elípses. Alguns podem atacar como campo comum ou clichê. Mas embora bastante explorado, o tema é oportuno porque se naturalizou entre nós a ideia de que não existe uma vida plena e equilibrada, graças a uma cultura de consumo e de idealização de felicidades. O discurso de que estamos fadados a sermos felizes, de maneira irresponsável, vem sendo passado a diante como se a tristeza fosse proibida causando distúrbios inúmeros. Estamos fadados sim à felicidade quando aprendemos a lidar com o que de chato pode acontecer na vida, enfim... Este não é um texto sobre psicanálise.  Mas, é por este motivo que, clichê ou não, "Roda Gigante" é necessária.

O álbum como um todo é bastante honesto - ao longo de suas 12 faixas - sobre o que sentir quando nos deparamos com o fim de uma relação que prometia ser muito mais. Quando nos deparamos com a falta de caráter de alguém ou com a saudade. Essa entrega toda fez com que Isabella raspasse a cabeça para se despir da cantora e artista no intuito de levar a própria Isabella ao palco. No decorrer das faixas notamos o desenrolar dessas sensações que culminam em "Roda Gigante" como a primeira grande mensagem de otimismo do álbum. Na minha lógica limitada, a partir daí as músicas falam de uma mudança de comportamento, uma que nos coloca nas rédeas de nossas vidas a ponto de enfrentar a realidade com força, uma nova postura. Daí vem "A Imperatriz e a Princesa" para falar de amor verdadeiro (última faixa), e esta é a verdade sobre Isabella Taviani, seu trabalho reflete sua própria verdade, concluí.

Durante uma semana inteira, a semana que antecedia o show, minha trilha sonora era "Eu Raio X". Cada música ocupou um lugar especial dentro dos meus dias, quer fosse pela letra - embora nem todas tenham ganhado uma predileção absoluta - quer fosse pelo arranjo das músicas. Neste quesito o álbum me surpreendeu bastante. Do pop ao medieval, do funk à balada romântica.

Isabella, obrigado por ter conhecido seu trabalho. Espero coisas novas em breve. Por agora... Lamento dizer, mas a chuva passou.
Fiquem com "Roda Gigante".


Roda Gigante (faixa 9 do álbum "Eu Raio X")
Isabella Taviani

Pena de quem desistiu
De quem olhou pra trás e não se viu mais
Pena de quem desabou e não soube levantar, só chorou demais
Pena que é de manha e você ainda nada enxergou
Nem se lembra mais das cores do amor

Quantas voltas tem que dar
A roda gigante do seu parque?
Pra você se convencer, os altos e baixos fazem parte
Essa historia que nos cabe
Vamos escrevê-la antes que acabe
Tudo em vão, tudo sem razão

Assim teremos vento a favor
Assim teremos teto para decolar
E vamos dando as cartas do jogo sem ver
Ganhar e perder, isso é viver
Pena que anoiteceu
E pra lua você nem deu um oi, tchau

Só o chão a te atrair
Te levando a sucumbir por ai, que mal
Pena que eu não sou você e assim eu poderia te socorrer
Te fazer voltar a sorrir
Quantas teorias mais
Você vai criar pra se sabotar, hein?

Olhando o relógio o tempo não vai parar, meu bem
Corra pra distanciar
Esse mal não pode te alcançar, não
Vem sentir já é verão

À face de minha estrela

Se as estrelas falassem aos meus olhos
Como fala o teu olhar,
abandonaria esta vida pequena no seio da terra
faria do teu peito meu lar.
E refletiria a felicidade mais profunda
como quem descobre a beleza no mar
e mergulha nas águas mais ternas
e por tanta ternura, tem a certeza de naufragar

Meu sonho por ti, estrela
É seguir-te por que céus desejar bailar
minha verdade é tua
vontade em querer-te, nada mais desejar
Completo e infinito sigo em frente
Rumo ao destino que não sei mensurar
Porque perto de ti estrela
Sei que somente a luz do amor é capaz de brilhar

19 de fev. de 2013

Outra vez


Acordo.
Levanto.
Ando.
Dobro.

Estanco,
Entupo,
Bato,
e tampouco.

Sei Caminhar,
Dividir,
Doar,
Pedir.

Recomeço.
Recordo.
Meço...
Tudo de novo.

4 de fev. de 2013

Pra nunca mais voltar

Não sinto mais...
As mãos tremem
lágrimas visitam a face
Engasgo.
Quero sumir de vez.

Nada é tão simples...
nenhuma dor,
nem um amor feliz
carrego este fardo pesado...
São só meus passos outra vez

Não durmo,
nem rezo,
não passo mais dias em claro
diante do mundo, confesso
sou um bicho, assim, raro.

Nem pelo choro que impeço,
Nem do afago que amparo,
Nem sei ser feliz, mas te peço,
Não me esqueças, me busque aqui do outro lado.

Pelo que não me completa...
Por todos a quem desamparo,
No peito uma dor, uma seta
pra que a morte enfim me de cabo,

sem tempo pra carta
ou bilhete de fim,
dou-te adeus na lembrança,
que terei sempre, bem aqui dentro de mim...

2 de fev. de 2013

Amor assim é falta


Perfura, queima
Trago mais uma vez...
Escorre das veias
E nem dói tanto assim

Os olhos se fecham,
mordo meus lábios.
A dor me visita
disfarçada de prazer

Ele bate, ele teima
Nas raias da estupidez
Transborda juras inteiras
me faz sentir por fim

Ilusões me entregam
rodeado por rostos sérios
essa ferida grita
é a falta enfim.