22 de dez. de 2013

Andorinhas voam

Andorinhas dizem
o que muitos ladrilhos negam.
Que por debaixo das marquises
vidas infindas se entregam,

e colhem galhos ao sabor do vento
pra que o inverno mal algum lhes faça.
E os filhos, em algum momento,
sintam-se protegidos de qualquer ameaça.

Ao som das luzes do dia
refletidas, seguem dançando.
Sombras são, andorinhas.

Lembrando esperanças minhas,
seguirão a refletir o tempo, teimando
tal qual ladrilhos que desconhecia.

10 de dez. de 2013

Ensaios em vozes 1

Quando a desesperança atingia níveis excessivos, cabia sempre a ele o papel de alimentar o humor. Era a única saída mais racional em que um problema é esquecido por completo entre a euforia do riso e a lógica da graça. Mas ela permanecia lá, a espreita, aguardando o momento preciso em que riso e graça não estivessem presentes como um escudo. Então, destruía tudo sem temer o amanhã incerto... Entretanto, como um soldado incansável, ele reconstruía cada sonho e cor. Replantava o futuro, e com um sorriso torto no rosto, ria da própria desgraça.

Ensaios em vozes 2

Nunca coube no mar, ou em qualquer coisa parecida que lhe pudesse definir o fim. Mesmo que não pudesse chegar lá, conhecer os sabores de todas as águas, ele sabia do fundo. Sabia de um obstáculo invisível, e sua tarefa em ser livre se dava pelos céus que não podia tocar, onde não podia alcançar, nem imaginar seu fim para além do escuro da noite, ou da estrela brilhante. Voar somente.