28 de dez. de 2016

Abuso

Ressoa por dentro de mim o sentido,
um eco de um outro eu.
Que remonta, restaura o motivo
A partir de tudo o que se perdeu.

E são nulos os descaminhos
De vidas, artérias... e noites de fim.
Sem registro, nem horas, suspiros tardios
No suor do sexo, gemidos de sim.

Porque se estou por completo
Sinto a verdade derradeira
Da memória a fagulha, a centelha

Que me dirige ao futuro concreto
Donde bebo do pulsar incerto
Neste espaço, o gozo de uma vida inteira.

8 de dez. de 2016

No que insisto

Não espero canções,
Nem abrigos.
O descanso é póstumo
Em rabiscos vazios,
Numa cama desfeita,
A ilustração perfeita do ser.
Não existem versões,
Nem castigos.
Esqueça os pecados,
Detalhes lascivos,
A visão é estreita,
A quem se quer poder ver.
É no estilhaço da fome
No fragmento da alma
Na paixão aturdida do homem
Que mora o poeta.
No desespero da sina,
No silêncio do acaso
Maqueia voraz sua trama.
Mas na voz ferida
Teme o cansaço
Do avesso do espelho
No contrário do beijo
A imagem fria do quarto.
E é sem perceber,
Que se concebe à vida
Um lugar a que pertença
Em palavras imensas
Ou no coração de quem ama.
Mas se morre o poeta
E não chega seu fim,
Liberta-se o tempo,
É no que insisto, o que invento
O sonho é tudo pra mim.