14 de abr. de 2011

Dia de Abril

Antes de dormir adoro revisitar meus pensamentos, meu dia. São paisagens inteiras viajando entre as paredes do meu quarto. Meus livros, meus carrinhos, minhas moedas, canetas, roupas espalhadas pelo chão, mochila, cristais, revistas, todos presenciam minha jornada rumo ao desconhecido, porque uma coisa é vivenciar o dia, é pensar nele, outra coisa é revisitá-lo. Quando retornamos à cena o vermelho é mais intenso, nada é o que parece. Existe um movimento especial que nos faz observar cada curva da estrada como sendo o trecho mais importante. O solzinho tímido por entre as nuvens, a água pingada a cair do céu na praia, a brisa fresca manuseada pelos carros passando... Riscos de tinta pintados à mão pelos pássaros, e o verde intenso das matas que ainda existem no Rio. As sombras das árvores subitamente me trazem a sensação do frio. Caindo meu pé pelo cantinho da cama, sinto as ondas do mar invadirem meu quarto. Minha cama meu barco. As roupas do chão flutuam e quase querem atravessar as paredes para além de mim. O vento derruba minhas anotações dispostas sobre a mesa do computador. Minhas paredes tingem-se das cores mais vivas a cada pássaro que surge em meu quarto. A melodia perpassa os ouvidos, penetra a alma, meus livros flutuam e dançam, são pássaros a me acompanhar. Viro para o outro lado da cama e meus carrinhos cortam minhas lembranças passando em velocidade ímpar por onde quer que eu vá. Sinto o tilintar das moedas como uma breve cascata enquanto minha mochila se abre para guardar tudo. A água fresca, a sombra das árvores, meus pássaros, minhas expectativas e tragédias. Meu sol perde o brilho, mas nunca a cor. Meu chão, agora seco, ainda possui as mesmas roupas espalhadas, minhas paredes coloridas mudam a melodia e cada verde intenso torna-se mais uma vez um pedaço de mim. Sento-me na cama. Recolho minhas anotações, remonto minhas paisagens, perco o sono outra vez. Seria impossível revisitar meus pensamentos, porque onde quer que fosse, ao longe, lá estaria você. Se na praia, vinha de dentro do mar, caminhando pela areia abraçado à timidez do sol. Vinha me acenando do carro quando não estava a voar com os pássaros por entre as nuvens de chuva declamando poemas em verdadeira música. Estaria ao meu lado, refletido no vidro do ônibus, sorrindo expectativas para o amanhã. Seria eu mais uma vez além das paredes do meu quarto, que rapidamente ressurgem de longe, bem delicadas, sem pressa para não quebrar a magia. As moedas sobem a mesa, as anotações voltam para seu ninho, meus livros não voam mais, fecham. Minha mochila abriga tudo o que preciso. Volto meu olhar para ela. Ali está marcada pelo dia-a-dia, ali está você, aos pedaços, me fazendo corar. Ali, escrito em frases desajeitadas pelo balanço do meu dia, está tudo o que preciso para lembrar num simples caderno de notas em folhas brancas, vazias, porque trago na memória o que me faz continuar.

Ps. Dedico este texto a alguém muito importante em minha vida.

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