6 de abr. de 2010

Relações Futuras

Pós-modernidade. Para uns, a Era das Maravilhas, para outros, a realização do inferno na Terra. Um período histórico, uma face do desenvolvimento social que nos permite praticamente tudo. Talvez a permissividade seja a marca mais poderosa do pensamento pós-moderno. São conclusões, intertextualidades. A realidade nunca se apresentou tanto como um mosaico, um hipertexto a ser conectado a partir das múltiplas experiências vividas, da pluralidade das relações e das reconfigurações dos espaços sociais, bem como a função a ser exercida por cada indivíduo neste espaço.

Esse avanço nos remete às ciências e tecnologias. Ainda partilhamos um paradigma tecnocrático, no qual a nossa sociedade se reafirma legítima quando as descobertas científicas e os avanços tecnológicos acompanham ou surpreendem a lógica do pensamento mediano. Dessa maneira, podemos considerar que o conceito inevitável conhecido como Globalização, o avanço absoluto e irrefreável das novas tecnologias, aliados às conexões e relações sociais, hoje, simplificam o entendimento da coexistência das múltiplas identidades em cada um de nós, com bem explica Stuart Hall em sua obra, “A identidade cultural na pós-modernidade”. Além disso, nos concede a possibilidade de projetar novas concepções de relacionamentos que serão estabelecidos em função dessas marcas atuais.

Está claro que a cada dia que se passa, em razão das diversas características que o sistema econômico, o político e o conceito de liberdade nos proporcionam, as relações estão cada vez mais assépticas. Este pensamento está longe de ser uma concepção do pensamento recente. Esta realidade já foi projetada muito antes do que se imagina. O cinema tem sido um grande colaborador. Se observarmos com calma, é através dele que os visionários da nossa sociedade conectam o pensamento que vem sendo produzido na “academia” ao imaginário humano. Resultado: “Apaixonado Thomas”, “Declínio do Império Americano” e “Invasões Bárbaras” são apenas três exemplos que reafirmam tudo o que estamos considerando a partir do pensamento pós-moderno e as relações que nele se estabelecem.

O que mais preocupa no futuro são as diferenças que são acentuadas pelo capitalismo e pela democracia. Diferenças que provocam o afastamento social. É o olhar do turista de safári ao vizinho com um menor poder de aquisição de bens de consumo. É a cidadania que se caracteriza pelo poder de compra. É a liberdade que se estabelece pelo acesso à tecnologia. É a nação que ocupa espaço privilegiado no panorama internacional. Todos fatores pretensiosos, mas de muito peso no que se diz respeito à assepsia das relações. É justamente neste aspecto que a cultura se faz mecanismo contundente no combate a este modelo. Somente com o pleno conhecimento sobre si mesma, que uma sociedade minoritária, dentro dos padrões globais, sobreviverá ao sistema avassalador que abate o mais fraco em seu processo natural. Assimilará o que interessa de culturas exteriores e através dessa “antropofagia” adaptar-se-á ao atual. Os pessimistas irão considerar o desaparecimento de uma cultura quando duas se encontram. Dirão que a mais forte destruirá a primeira. Se assim fosse, no Brasil, como em outros países colonizados por colônias de exploração - que só faziam depredar e destruir - não existiriam mais índios. Muito embora a tolerância para com o diferente seja insuficiente, Dominique Wolton comenta brilhantemente o conceito de multiculturalismo, no qual, culturas diferentes conseguem coexistir no mesmo espaço.

Talvez o caminho ideal seja justamente o de pensar sobre o futuro considerando o que fazemos da nossa cultura no presente. Reforçando as lutas sociais que reivindicam os direitos da maioria e aceitando os processos que nos abatem naturalmente. É desnecessário estudar os conceitos de globalização, regionalismos, quando assuntos como analfabetismo e fome são ainda mais urgentes. Depois de as reformas de base terem sido realizadas verdadeiramente, é que poderemos comemorar um patamar mais consciente frente às questões que se nos apresentam na sociedade em que estamos inseridos.

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