16 de mai. de 2011

Impacto

"Muitos brasileiros sonham com a possibilidade de viajar para um país de primeiro mundo para tentar uma vida melhor. "

Esta afirmativa definitivamente carrega consigo uma série de reflexões. A primeira delas, sem dúvida, é o fato de que o Brasil, infelizmente ainda está longe de ser a pátria dos sonhos. É bem verdade que o nosso clima é um dos melhores do mundo quando nos referimos ao eixo Rio – São Paulo, afinal, quem possui ar-condicionado não se preocupa com o calor, e no caso de frio, uma boa residência resolve. Claro, a prosperidade da Nova Iorque brasileira supera qualquer outra cidade tupiniquim, assim como as belas praias cariocas, aquelas que dão um toque de superioridade enrustida para o Rio de Janeiro, sem dúvida alguma, bastam. Antes fosse assim.

Fato é que a cada ano, mais pessoas são vítimas de catástrofes de cunho climático quer seja pelo comportamento inusitado que nosso planeta vem apresentando nos últimos anos pela longa exploração incontida de seus recursos, quer pela não infra-estrutura oferecida pelos governos. Nosso Brasil é lindo, mas não podemos esquecer que muitas de nossas cidades foram construídas na contramão da natureza. São bairros-aterros, cidades inteiras construídas em locais em que antes houvera apenas água; estradas atravessando mangues e destruindo tanto flora quanto fauna; rios desviados visando o abastecimento de centros urbanos enquanto ecossistemas colidem uns com os outros na tentativa de sobrevivência. O que custa um trabalho conjunto para acrescer em qualidade real para os futuros moradores das áreas urbanas de nosso país? Geólogos, biólogos, engenheiros, todos deveriam ter espaço público garantido nos governos para não caírem no ridículo de se candidatar à vereança a despeito de resolver problemas antigos que descansam sobre os lençóis empoeirados da corrupção. Mas tudo isso custa, e custa dinheiro. Dinheiro que escoa pelos ralos que a matemática provoca por não ser de fato uma ciência exata, e, que vai desaguar direto nos cofres de quem deveria defender o interesse público, e não os interesses do público.

Sim, definitivamente Michael Foucault tinha razão com o panóptico, Guy Debord também, pois vivemos em uma sociedade do espetáculo. Viver no nordeste, ou melhor, no sertão nordestino em tempos de calor extremo rende manchetes de jornal por dias, o papel ganha peso e valor mais uma vez. O ibope de programas que definem seu trabalho como de ‘denúncia’ continuam exibindo tragédias sem denunciar de fato quem está por detrás da grande sabotagem que cerca o povo sertanejo desde que Lampião ainda era vivo. E por que não falarmos um pouco no sul de nosso país? Apesar de parecer outro país como muitos pretensiosos gostam de afirmar, o sul é somente o sul de um pais de terceiro mundo. O vocábulo pode parecer antiquado, mas em desenvolvimento é quando notamos a existência de programas sociais de resgate cultural, de desenvolvimento e capacitação/qualificação de indivíduos, e não quando ainda notamos que tem gente passando fome, favelas e analfabetos, na verdade ainda existe gente humilde que nem de longe sente o calor do afago do governo, ao contrário, recebe os golpes paulatinamente da cinta de aço do pai-castigo sem o menor aviso. Pergunte para algum deles quem é o culpado por sua fome e trágica ignorância. Pela falta de trabalho digno e pela ausência de honestidade no poder público. A resposta pode vir a ser um “não sei” após um breve período de reflexão.

Você pode estar se perguntando como o assunto pode mudar tanto de direção, afinal de contas, falávamos sobre a verdadeira delícia de se conhecer a cultura ordeira de um país de bases sólidas, cujo governo se cerca de artifícios para defender seu povo, por conseguir de fato definir qual seu papel perante a sociedade. Mas entre tanta turbulência, tornamos claras questões obscuras, intrinsecamente ligadas ao nosso modo de vida atual. Se compararmos nossa moeda a algumas das moedas mais poderosas do mundo como o dólar americano, o euro ou a libra esterlina, perceberemos o quanto nossa economia ainda está aquém de se definir como fator determinante e atrativo para que as cabeças pensantes de nosso país se detenham dentro de nossas fronteiras. Mas a raiz do problema nem esta na moeda, até porque, se os salários fossem um pouco maiores, certamente os engenheiros, médicos, doutores, professores, mestres, estariam aqui, em um solo mais fértil, provando das delicias da nossa terra, das combinações que nosso arroz com feijão permite, e não do fast food barato que se encontra por aí.

É Brasil, por vezes sinto vergonha de você. Não pelo que sou, ou pelo que você nos fez, mas pelo que os seus filhos fazem desde que descobriram como é bom mamar nas tetas de teu seio e descobrir mil amores diferentes, todos os dias, os conduzindo ao berço esplêndido donde reinam eternamente impunes enquanto chafurdam na lama. Vejo a comercialização barata da mão-de-obra de mentirinha que se diz pensante e me sinto envergonhado pelo subproduto desta venda quando converso com ele. Maldita relativização da realidade. O pior de tudo é me sentir culpado e injusto por não compreender o panorama que o pariu, ou aquela senhora que o pariu mesmo.Enquanto isso, prosseguirei escrevendo e quem sabe uma ou outra palavra não te sirva. Em tempos de revolução digital em que blogs não servem para embrulhar peixes, favorite-me, ou quem sabe Alt+F4 não te faz sentir melhor protegido? Terei cumprido meu papel de qualquer forma.

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