7 de mai. de 2010

Nem tudo está perdido

Isso mesmo, nem tudo está perdido. Meu silêncio de dias será quebrado com um texto positivo, ao contrário do que a maior parte de vocês pode pensar sobre o meu singelo hábito de criticar veementemente toda a desordem que compreendo como imperdoável, certas vezes me poupo o trabalho e o stress que estes momentos me proporcionam para dar lugar ao que é no mínimo uma fagulha de esperança.

Outro dia mesmo presenciei uma cena interessante. Ao sair do trem, uma mulher pôs-se a passar mal, estava grávida a julgar pelo formato de sua barriga, e consequentemente acabou vomitando. Sozinha, todos passavam por ela sem sequer notar sua aflição. Uma mulher grávida, e que naquele momento se apoiava a uma pilastra, pois talvez estivesse tonta, seria bem fácil de se notar. Eis que surge, em meio ao desprezo comum da rotina das pessoas, um senhor de meia-idade. Ele vai até ela. No caminho, joga fora seu cigarro. Em seguida, põe a mão nas costas da moça massageando com cuidado enquanto ela vomita e em seus lábios a frase "calma vai passar" pôde ser lida com nitidez ao passo em que ele tentava não olhar diretamente para o vômito da moça.

Essa cena pode ter milhares de interpretações psicanalíticas, leituras complexas ou simplórias, mas hoje eu vou falar apenas da importância deste ato para meu ponto-de-vista.

Podemos pensar que o mundo caminha por uma trilha obscura, que os homens continuam se mantando e se digladiando por coisa alguma, no entanto não é verdade. Não saímos mais de nossas casas armados com espadas ou clavas para nos defendermos de eventuais conflitos na rua (mesmo sendo pessimistas). Não tememos a morte pelas mãos da igreja, nem mesmo seremos guilhotinados em praça pública ou enforcados sob a acusação de bruxaria. Não jogaremos os vizinhos ingratos aos leões, embora alguns ainda pareçam merecer, e não mais pregaremos a barbárie como a saída para o dia-a-dia.

Nossos conflitos continuam, é verdade. Muitos deles ainda são armados e embora a maior parte deles tenha migrado para outras instâncias que não o corpo-a-corpo das espadas, ou as trincheiras do tráfico, o fato de tudo isso nos aterrorizar me é um bom sinal. Sinal de que nem tudo cai pelas raias da banalidade, de que nosso nível de exigência está maior, de que estamos aos poucos nos civilizando. Campanhas de solidariedade circulam ao redor do globo com a velocidade "interneteira". Nunca fomos, de fato, tão favoráveis à paz.

Que seja o começo do fim, mas que seja o fim de uma era perturbadoramente ignorante, para compreendermos finalmente que com o novo começo, há de preponderar pelo ímpeto das boas atitudes uma história pautada no bem. Nem tudo está perdido. Eu acredito nisso.

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