1 de jun. de 2011

O cartão de junho

Rio de janeiro, 01 de junho de 2011


Rafael tinha tido uma manhã difícil. Ele sabia que acordar seria complicado a partir do momento em que saíra da cama. Arrumar o quarto, por as coisas na mochila, esquentar o almoço. Buscar um irmão na escola, ligar para seus pais, infelizmente separados.

- Mãe?! Tudo certo sim, to quase saindo! Claro, ligo sim. Pode deixar, mãe. Um segundo que meu pai está me ligando. Pode deixar! Eu sei, beijos.

- Oi, pai... Não, estava com minha mãe ao telefone. Claro que não! Contanto que você não esqueça que no final do mês vou ver aquele curso que te falei. Tá bem. Estou saindo pro trabalho, depois nos falamos. Beijo.

O ônibus que ele costuma pegar não parou desta vez. O sol estava tímido, mas suficientemente quente para suas roupas. Apesar de magro, ele adora andar com camisas de manga comprida. Suéter, óculos, camisa, calça jeans, sapatos, e nada do ônibus. Ele tentava se concentrar no que pensar, tentava ouvir músicas, mas precisava pegar sua condução e ter mais um daqueles dias lindos de trabalho exaustivo.

Ao final do dia, o jovem rapaz estava prestes a sair do trabalho. O resultado era o de sempre: pouco dinheiro, muito esforço e cobrança, um dia como outro qualquer. Mas no fundo, ele tinha um motivo chamado amor. Não era tão bom falando, ficava um pouco desnorteado, mas se arriscou a escrever um pequeno cartão.

"Amor, Desculpa! Eu sei que ultimamente eu tenho sido um poço bem fundo de indiferença e ignorância pelo telefone. Não é pessoal, não tem como ser, pois quando estamos juntos o meu humor muda e eu não consigo parar de sorrir. Você tem sido mais que especial em minha vida, sabe disso. E talvez seja por isso que eu anseio tanto pelos nossos finais de semana; porque neles eu posso extravazar tudo o que eu comprimi durante a semana inteira. Para ser sincero,como sempre sou, eu tenho que admitir que tenho muito medo de que você duvide do amor que sinto, que numa dessas ligações você entenda algo errado e pense que sou uma pessoa indeferente, que não liga para sentimentos. Amor, você me conhece, eu não sou a melhor pessoa do mundo, mas eu tento. E você me tem feito acreditar veementemente que sou. O dia, por mais lindo que tenha sido, começou numa correria e eu não dei conta de tudo. Queria ter sido mais carinhoso com você, ter falado coisas bonitas quando você me ligou, mas eu estava com fome, precisava trocar dinheiro, o pagamento veio pouco, a pausa já estava estourada e para completar quando fui abrir o hamburguer o celular caiu no chão.
Quero logo chegar em casa para que eu possa estar com quem tem me dado uma nova perspectiva na vida."


Ele chegou sem flores, apenas um cartão. Tirou os sapatos, pediu uns minutos para tomar banho. Pôs um pijama confortável e de tanto amor, dormiu antes mesmo de se sentir completo para deixar para os sonhos o desejo de ser feliz amanhã. Mais uma vez.


Adaptação

3 comentários:

  1. Parabéns, a sua sensibilidade me afeta, mas remete a pensamentos bons e claros.

    ResponderExcluir
  2. Que texto mais lindo *-----------*
    Depois dessa até eu fico in love <3

    ResponderExcluir
  3. Obrigado!
    Fico feliz que os tenha feito bem!
    XD

    ResponderExcluir