16 de jun. de 2013

Eu acredito em virar a página.

O certo, é que nossa história é a simples síntese das nossas decisões e posicionamentos, e, é claro, suas consequências diretas e indiretas. É o resultado da equação indivíduo-tempo. E como nada há de ser eterno neste estado de coisas, a equação sofre com as variáveis que a compõe ao longo da jornada. 

A pieguice do tema, no entanto, não está na concepção da autoajuda, está na reedição, na recorrência, na necessidade de se pensar o óbvio mais uma vez. A pieguice está onde falta bom senso, onde sobram frases feitas. E é nos braços da obviedade, quando nos falta o bom senso, que reinventamos o conceito do virar a página.

Do simples esquecimento ressentido para a lembrança politicamente correta. Virar a página é reflexo do desapego que praticamos ao identificarmos o que nos desrespeita, aquilo que nos incomoda como indivíduos. Nunca foi tão difícil dizer não. Puro, simples. Um não transforma. Muitos nãos transformaram a história. Por que não a nossa? Porque tememos a reação que ele causa. Porque estamos intolerantes, hipócritas e dementes daquilo que o mundo deveria ser. Diante de tantas crises, indispor-se com as opiniões divergentes que encontramos no convívio social parece tão pequeno que nem nos damos conta de que somos, na dimensão micro, o efeito real desses impactos maiores. É a omissão de hoje, tal qual a bolinha de papel que entope o sistema de dragagem quando acumulada às demais, que resulta na vertigem coletiva que sentimos e fingimos não ver. Nos idiotizamos porque é mais bonito. É mais fácil. Então, justificando a Era do gostar de tudo, perseguindo o ideal do cidadão de bem, vemos a crescente resistência ao respeito, porque vivemos a falácia do Procon generalizado. O "eu te processo" no desconforto diário é a crítica ao politicamente incorreto às avessas da opinião verdadeira. A intolerância é a autoafirmação da mesquinhez humana quando, sufocado, o egoísmo se liberta.

Por tanto, virar a página é absolutamente recomendável, natural e salutar. A lembrança é a triagem inicial da memória. Merece ser armazenado, o que, dentro de seu valor arbitrário, tem importância nas páginas de sua história. Uma vez que o conteúdo não atenda aos requisitos da felicidade, da superação ou de qualquer outro valor ou objetivo que lhe sirva de condutor, deve ser ignorado e plenamente esquecido. Mas o processo é maior do que se compreende. É preciso destruir qualquer alternativa de retorno, e isto significa coragem para enfrentá-lo. Porque se as decisões que tomamos são de nossa responsabilidade, não será o tempo que se responsabilizará por elas, muito menos a vida. O que nos falta é a coragem e o discernimento para executar de uma vez os fantasmas que ocupam espaços preciosos na memória. Sem perceber, tornam-se lembranças indesejadas, feridas abertas que florescem sem aviso prévio.


Vire você também as suas páginas. Nosso objetivo principal é a felicidade independente de como a concebemos, e esta só será possível ser plantada na terra fértil da mente, quando arrancarmos de lá as ervas daninhas que impedem seu crescimento.

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