14 de mar. de 2013

Uma verdade sobre Isabella Taviani

Isabella Taviani em seu show Raio X no Teatro Rival em fevereiro de 2013

Fazia algum tempo que aquela voz me incomodava. Não era a Ana Carolina, tinha uma marca particular ao soar o "R" e começou a se disseminar em novelas com a mesma velocidade que uma Ferrari atinge a marca dos 100 km por hora. Finalmente me apresentaram sua foto. Achei de um sorriso franco, sincero, é verdade. Mas ainda não me tocava tanto.

De repente me vi de ingressos comprados para o show de Isabella Taviani no Teatro Rival, no Rio de Janeiro, assim mesmo, sem conhecer muita coisa. Então me recomendaram escutar com pelo menos uma semana de antecedência do show o seu álbum mais recente, o álbum de trabalho e tema do show, "Eu Raio-X".

Confesso que no início fui resistente. Mas ela pediu logo na primeira faixa "deixa eu ficar" e eu deixei.

A ideia deste texto é falar um pouquinho sobre o álbum, sobre pontos que me chamam a atenção no trabalho de Isabella, só que se eu fosse fazer uma análise de todas as músicas eu levaria dias e isto ficaria bastante extenso porque uma das coisas que na minha humilde opinião marcam seu trabalho, é a diversificação de arranjos, tanto vocais quanto instrumentais. Para evitar essa situação, elegi uma música do álbum para dar uma pequena mergulhada: "Roda Gigante".

Sabe aqueles dias em que o simples fato de acordar já é um problema? Quando nos sabotamos deliberadamente apenas por uma frustração com a qual não conseguimos lidar? Pois é. Existe um amanhã, existe um hoje! Esta é a sensação transmitida pela composição. A vida é de altos e baixos como numa roda gigante. Lembro de escutar este tipo de afirmativa do meu pai, do meu professor de física explicando as elípses. Alguns podem atacar como campo comum ou clichê. Mas embora bastante explorado, o tema é oportuno porque se naturalizou entre nós a ideia de que não existe uma vida plena e equilibrada, graças a uma cultura de consumo e de idealização de felicidades. O discurso de que estamos fadados a sermos felizes, de maneira irresponsável, vem sendo passado a diante como se a tristeza fosse proibida causando distúrbios inúmeros. Estamos fadados sim à felicidade quando aprendemos a lidar com o que de chato pode acontecer na vida, enfim... Este não é um texto sobre psicanálise.  Mas, é por este motivo que, clichê ou não, "Roda Gigante" é necessária.

O álbum como um todo é bastante honesto - ao longo de suas 12 faixas - sobre o que sentir quando nos deparamos com o fim de uma relação que prometia ser muito mais. Quando nos deparamos com a falta de caráter de alguém ou com a saudade. Essa entrega toda fez com que Isabella raspasse a cabeça para se despir da cantora e artista no intuito de levar a própria Isabella ao palco. No decorrer das faixas notamos o desenrolar dessas sensações que culminam em "Roda Gigante" como a primeira grande mensagem de otimismo do álbum. Na minha lógica limitada, a partir daí as músicas falam de uma mudança de comportamento, uma que nos coloca nas rédeas de nossas vidas a ponto de enfrentar a realidade com força, uma nova postura. Daí vem "A Imperatriz e a Princesa" para falar de amor verdadeiro (última faixa), e esta é a verdade sobre Isabella Taviani, seu trabalho reflete sua própria verdade, concluí.

Durante uma semana inteira, a semana que antecedia o show, minha trilha sonora era "Eu Raio X". Cada música ocupou um lugar especial dentro dos meus dias, quer fosse pela letra - embora nem todas tenham ganhado uma predileção absoluta - quer fosse pelo arranjo das músicas. Neste quesito o álbum me surpreendeu bastante. Do pop ao medieval, do funk à balada romântica.

Isabella, obrigado por ter conhecido seu trabalho. Espero coisas novas em breve. Por agora... Lamento dizer, mas a chuva passou.
Fiquem com "Roda Gigante".


Roda Gigante (faixa 9 do álbum "Eu Raio X")
Isabella Taviani

Pena de quem desistiu
De quem olhou pra trás e não se viu mais
Pena de quem desabou e não soube levantar, só chorou demais
Pena que é de manha e você ainda nada enxergou
Nem se lembra mais das cores do amor

Quantas voltas tem que dar
A roda gigante do seu parque?
Pra você se convencer, os altos e baixos fazem parte
Essa historia que nos cabe
Vamos escrevê-la antes que acabe
Tudo em vão, tudo sem razão

Assim teremos vento a favor
Assim teremos teto para decolar
E vamos dando as cartas do jogo sem ver
Ganhar e perder, isso é viver
Pena que anoiteceu
E pra lua você nem deu um oi, tchau

Só o chão a te atrair
Te levando a sucumbir por ai, que mal
Pena que eu não sou você e assim eu poderia te socorrer
Te fazer voltar a sorrir
Quantas teorias mais
Você vai criar pra se sabotar, hein?

Olhando o relógio o tempo não vai parar, meu bem
Corra pra distanciar
Esse mal não pode te alcançar, não
Vem sentir já é verão

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